As estrelas daqui não brilham pra mim...

É só mais um desabafo do meu coração...

Sinto tanta falta do vento frio que toca meu rosto e me arrepia, da sensação de que estou sozinha em meio a uma multidão de solitários, de poder ser eu mesma, de não ter que corresponder as expectativas de quem acha que me conhece, de não ser notada, de sorrir para estranhos e receber sorrisos de volta, do calor que essas pessoas me transmitem e aquecem meu rosto frio...

Sinto falta de andar sem rumo, de apreciar o espetáculo que Deus prepara a cada por do sol, tão único, tão belo.

Um aperto no peito me sufoca ao pensar que não posso mais caminhar horas por entre as árvores, subindo uma montanha no meio da noite, para estar no topo e ver as luzes embaixo ficarem parecidas com um tapete de estrelas...reflexos daquelas que no céu brilham pra mim!

Vento no Litoral do Legião me vem a mente quando vejo o mar, separando as estrelas do céu do tapete brilhante do chão, me fazendo sentir única e especial por presenciar essa visão...

Eu deixei pra trás, abandonei sem pensar duas vezes, momentos que me fizeram sorrir sem esforço, chorar de alegria, me emocionar com detalhes pequenos, como aquelas estrelas brilhando pra mim...

Eu não consigo olhar mais para o céu, o céu daqui não é igual. Ele não brilha. O sol me machuca, queima, ele não me acaricia nem me faz sorrir. O sol daqui não me faz feliz. Mas ele também é uma estrela, e eu abandonei as estrelas quando sai de lá. O sol só está triste, porque ele me sente assim...

Mas tem os dias de chuva. E a chuva daqui tenta me enganar, com toda minha carência ela quase consegue, mas nada dura pra sempre, nem mesmo as chuvas de novembro, não é Axl?

Eu não consigo me perdoar por ter voltado. Eu nem consigo não chorar quando penso nisso. Eu tinha o vento, as estrelas, a lua e o sol gostava de mim, eu andava sem rumo e estar perdida era sempre o melhor caminho. Eu era quem sempre quis ser. Não havia um lugar onde não quisesse estar...

Eu tinha uma montanha quando abria a janela, ela estava lá, ninguém poderia tirá-la de mim. Ela estava lá quando eu acordava e antes de ir dormir, e sempre estava me esperando pra me mostrar as estrelas...

Ela continua lá, mas eu não. Porque aprendi cedo a abandonar o que me faz sorrir...

Hoje estou aqui, tentando deixar que Deus resolva uma questão de quase três anos atrás, mas seria sensato jogar tamanha responsabilidade Nele? Volto de vez para as estrelas que brilham ou fico aqui, vendo a vida passar sem graça, sem a lua grande e preenchendo tão lindamente minha noite, porque lá a natureza é minha, eu quase posso tocar o céu, eu posso me sentir sentada ao lado de Deus, eu consigo ver todas as maravilhas que Ele fez, eu me torno a pessoa que eu sou, feliz.

Amigos estão em todos os lugares, os meus escolheram seus caminhos, chegou a minha vez, estou procurando uma resposta para uma pergunta que tenho medo de fazer. Vale a pena ficar?

Eu não quero mais sentir falta das estrelas, nem da lua, nem do sol, nem quero não ver mais a montanha...
Estou perdendo um pouco de mim a cada dia estando aqui, é disso que sinto mais falta, não das pessoas que estavam comigo lá, apesar de amá-las intensamente e saber que elas estarão comigo onde eu estiver, mas da pessoa que eu realmente sou, aquela que não deixa de viver por medo de se machucar ou machucar alguém, sinto falta da minha versão original, porque está cópia aqui não me satisfaz...

Foi só um desabafo...

"Aprendi sem querer aprender, a deixar as pessoas irem, e elas foram e levaram parte de mim a cada despedida, mas não aceitei que elas me deixassem nada, nem saudade, nem tristeza, nem lembranças, então fiquei vazia..." E.N.